English · Português
ISSN 0102-8529 (Impresso)
1982-0240 (Online)
PUC-Rio - Página inicial Instituto de Relações Internacionais Revista Contexto Internacional

Vol. 12, Ano 6, 1990

Ecologia e Ordem Internacional — Uma Discussão sobre os Paradigmas de Análise

O presente artigo pretende explorar as interconexões entre relações internacionais e meio ambiente. Partindo da identificação do delineamento de uma “ordem ecológica” mundial, associada as características dessa ‘ordem” aos paradigmas clássicos de relações internacionais. Márcia Jabôr Canízio



Resumo
O presente artigo pretende explorar as interconexões entre relações internacionais e meio ambiente. Partindo da identificação do delineamento de uma "ordem ecológica" mundial, associa as características dessa "ordem" aos paradigmas clássicos de relações internacionais. No resgate das tendências do pensamento ecológico e na sua identificação às vertentes realista e idealista das relações internacionais busca esclarecer o atual andamento do debate sobre a questão do meio ambiente, bem como discutir as possíveis opções para o Brasil no quadro de sua inserção global. No paradigma realista, originado na percepção hobbesiana das relações internacionais, identifica-se o delineamento de uma tendência realista na abordagem sobre ecologia, que se desdobra nas vertentes da eco-segurança e do eco-autoritarismo. A eco-segurança preocupa-se, essencialmente, com a questão do equilíbrio na balança de poder e com as implicações que o tema ecológico terá junto à configuração de poder mundial. O eco-autoritarismo propõe o advento de um novo contrato social: um "contrato ecológico" que permitirá o advento de um Leviathan supranacional, com características autoritárias, para gerir a escassez ecológica. O paradigma idealista, baseado numa tradição kantiana das relações internacionais, apresenta sua tendência nas preocupações da ecologia associada à paz mundial, refletindo-se na vertente da eco-democracia. A eco-democracia parte de um eixo básico: a ecologia, pensada no plano mundial, teria mudado a natureza da política internacional, evidenciando a obsolescência do atual sistema de Estados. Suas prescrições se dão no sentido ou do advento de um governo mundial de características democráticas que leve em consideração a administração centralizada do meio ambiente, ou da reformulação do padrão de relacionamento entre os Estados. Uma vez confrontadas essas duas abordagens aplicadas à ecologia, o artigo propõe o advento de uma terceira via de atuação: a via grotiana ou racionalista. A via grotiana associada à ecologia poderia engendrar, por um lado, a associação da ecologia à Justiça e ao Direito; ou, por outro, a substituição da Justiça por valores ecológicos, a eco-justiça. Nesse contexto, o artigo propõe que os desdobramentos da percepção inspirada em Grotius se constituem em opção viável para um país como o Brasil no tratamento externo da questão ambiental.

 

Ecology and the International Order: A Discussion of Analytical Paradigms

Abstract
The article explores the connections between international relations and the environment. After first identifying the outlines of a global ecological order, the text relates the characteristics of this order to classic paradigms in international affairs. Through a review of tendencies in ecological thought and an identification of these with the realistic and idealistic lines in international relations, the text seeks to clarify the current status of the environmental issue and to discuss the options open to Brazil as far as its role on the world scene. Within the realistic paradigm, which finds it roots in the Hobbesian perception of international relations, the markings of a realistic tendency can be detected in the approach to ecology a tendency divided into the eco-security and eco-authoritarianism lines. Eco-security is concerned primarily with the question of the equilibrium of the balance of power and with the implications that the ecological issue may have for the world power structure. Eco-authoritarianism proposes the adoption of a new social contract - an ecological contract that would foster the advent of a supranational Leviathan, with authoritarian characteristics, entrusted with the management of scarcities prompted by environmental imbalances. The idealist paradigm, based on the Kantian tradition in international relations, tends to tie ecological concerns to world peace, in the form of eco-democracy. Eco-democracy starts from a basic premise: ecology, seen at a world level, has altered the nature of global politics and evinces the obsolescence of the present-day system of states. Its prescriptions point either toward the dawning of a world government with democratic characteristics and which would take into account centralized environmental management or toward the reformulation of the current pattern of inter-state relationships. After comparing these two approaches, the article proposes a third line of action: the Grotian, or, rationalist, way. The Grotian approach to ecology can, on the one hand, link ecology to justice and law or can, on the other, prompt the replacement of justice with ecological values - eco-justice. Against this background, the article suggests that for a nation like Brazil this third approach offers a viable option for addressing the environmental issue on the international level.



Ecologia e Ordem Internacional — Uma Discussão sobre os Paradigmas de Análise


VoltarImprimir

IRI Instituto de Relações Internacionais
Rua Marquês de São Vicente, 225 - Vila dos Diretórios, Casa 20, Gávea - Rio de Janeiro - RJ, Brasil
Tel/Fax: +55 21 3527-1557 3527-1558 3527-1560